terça-feira, 29 de novembro de 2011

É normal

Chega uma hora na vida de uma pessoa, chega uma hora no ano, no mês de novembro, que a gente se questiona.
Não que a gente já não tivesse dúvidas antes. Mas a gente passa a se questionar inclusive sobre as nossas dúvidas. E é uma hora do ano que não dá tempo mais, nem tem mais graça e nem ter razão para nos questionarmos sobre o passado. 
Agora a gente se questiona sobre o que a gente quer ser. 
Pode ser sobre várias fases do que a gente quer ser. Vou dar uns exemplos das fases:
- O que eu quero ser quando eu crescer?
- O que eu quero ser quando o verão chegar?
- O que eu quero ser quando eu estou sozinha?
- O que eu quero ser para o meu filho?
- O que eu quero ser no primeiro minuto do primeiro dia do ano que vem?

Esses são uns exemplos do que é um -o que a gente quer ser-.
A gente pode fazer planos, a gente pode imaginar, a gente pode começar já a construir o que a gente quer ser para que quando ele fica pronto possa se chamar -o que a gente é.

E eu só passei aqui para lembrar a mim mesma que isso é normal. E que é bom!
Que quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado.
Que querer mudar é bonito e genuíno.
Que imaginar que tudo será melhor, que os sonhos se realizarão, que a inquietude é só um sinal de que há muita coisa para acontecer, é normal.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Onde mora o seu amor

O amor não tem um endereço fixo. Ele se muda, e muda a mobilia do lugar pra onde e de onde muda constantemente. 
Ele não é muito alto nem muito baixo, ele tem corpo de ameba mas é muito, muito elegante. O amor anda de carro, o amor anda de ônibus, usa bicicleta e jatinho particular. Ele chega e ocupa todo o ambiente e todas as frestinhas. Ele preenche. Ele se estica para encontrar os polos norte e sul e nem sofre ou se esforça pra isso. Quando ele estica ele cresce e não fica flácido porque nunca volta a ser pequeno. Aliás, ele nunca é pequeno. Amor tem o tamanho que tem, e é sempre grande para quem o carrega. Mas é leve, não pesa. O amor é do tipo irreverente que aparece onde a gente menos espera. Ele entra pelo telefone, ele se esconde nas bolas de meias e as vezes no pé de meia perdido. Ele fica no copo com restinho de suco, nas escovas de dentes, no chaveiro e na janela. E não se engane, ele vai te visitar e ficará na sua casa mas é tão discreto que você nem vai perceber que seu hóspode ainda está lá. Ele vai te surpreender quando às vezes ao abrir uma porta ou fechar uma torneira ele assoprar no seu ouvido e te esquentar o coração e gelar o seu rosto num abraço de dentro do corpo que junta todos os seus órgãos e te faz sentir que é vivo e que não há tempo a perder.

"Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora"

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Lembranças

Balanço azul na garagem; Jardim da casa da vó com mini morango; Titãs no domingo de manhã; História das amoras na grama; Bicicleta rosa de elefante que dobra; Daphne; Cavalinho do chuveiro; Ler jornal de ponta cabeça; Virar casulo na rede; Elevador na escada; Farinha lactea mágica; Telepapo; De frente com Batista; Pininhos de plástico; Caixa de luz; Dormir no sofá; Carro da moranguinho





sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Os beija-flores

Hoje eu sonhei com um casal de beija-flores (nunca pensei que tivesse o beija-flor macho e a beija-flor fêmea, mas é claro que existe). Eles vieram numa gaiola tadinhos, mas eles nem estavam tristes, era mais o medo mesmo. As vezes eles fugiam, a gaiola deles era muito complicada! E eles eram muito rápidos! Como todos os beija-flores são. Mas eu os conseguia segurar, e segurava até que eles entendessem que podiam confiar em mim. Quando eu os colocava de novo na gaiola percebia que minhas mãos ficavam coloridas, das cores que eles eram e isso me fez pensar que eu fazia mal pra eles, mas acho que não fazia na verdade. Eles cresceram (assim como os outros animais que ganhei ao longo do sonho. Até uma girafa bebê! Veja só!) e ai passei a deixar um potinho de água num cantinho do quintal, um pedacinho de cenoura (é eles gostam de cenoura...) e mais algumas coisas que eu não me lembro bem. Eu passei a deixar que eles vivessem soltos e de alguma forma passei a sentir que eles me amavam muito! E eles iam, mas sempre voltavam. Eles comiam a comidinha e bebiam a águinha mas era a mim que eles voltavam e a mim que eles queriam e por eles eu esperava sem sofrer. A gente criou uma coisa que se chama cumplicidade.

domingo, 16 de outubro de 2011

Deriva continental

Eu imagino outros países como eles só devem ser na minha cabeça, e viajar parece essencial. Coloco expectativas, faço roteiros tão rotineiros para os nativos mas que pra mim são fotograficamente originais. Atravesso as ruas, digo bom dia, percorro os bairros, vejo pombas na rua diferentes, vejo postes de luz mesmo apagados, diferentes, vejo uma camiseta básica branca tão diferente, sinto o cheiro do pão feito com a mesma farinha, mas tão diferente! Pergunto a mim mesma o porquê de ser tão diferente assim, mas agradeço por sê-lo sentindo que isso atrai não por ser melhor, talvez simplesmente por ser tão incomum mesmo feito com todas as ferramentas e toda matéria prima que eu já conheço. O novo sempre atrai mais, mesmo que ele já seja velho em si. Como a gente pode ser tão diferente se a matéria e os objetivos são tão parecidos em qualquer lugar do mundo? Isso não é um pouco mágico? Penso que sim porque é como funciona com os gêmeos que nascem da mesma barriga quase que no mesmo instante e tomam rumos distintos, e veem o mundo de um jeito particular. Não é mesmo mágico? Demorei um pouco pra perceber porque os conselhos não nos servem muito, mas a verdade é que há um mundo tão imenso dentro de cada pessoa que não dá pra copiar. E isso é bom! É sinal de que dá tempo pra mim, é sinal de que daqui trinta anos ainda dá tempo pra mim. É sinal de que eu posso viajar o mundo inteiro se quiser, e refazer a viagem vendo tudo diferente! Mudar de alguma forma parece sempre uma boa opção (Mas isso nem sempre serve para os cabelos).

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Versus

A gente pensa nas árvores. E pensa no que as árvores estariam pensando. E pensa no que o pássaro pousado sobre a árvore pensa sobre o que a árvore pensa. E ele pensa: Será que ela pensa? E a gente pensa: Será que ele pensa?
E então sentimos pena do pobre passarinho porque ele não pensa. E a árvore sente quando o passarinho pousa sobre ela e sai de cima dela, e o passarinho sente que a árvore sente quando ele pousa ali e ele se sente protegido, aconchegado. E a árvore sente pelo pobre passarinho que está desabrigado numa chuva repentina e não teve tempo de alcança-la, mas logo pensa que ele deve ter achado outra árvore pra repousar, mas sente saudade, porque o passarinho fica aconchegado nela mas ela também se aconchega na presença dele. E a gente coitado, sente pena porque o passarinho não pensa. O que a gente não pára e pensa é que se ele sente quando quebra a asa, se ele sente que chove sobre suas peninhas, se a árvore sente quando o pássaro vai e volta,se ela sente que jáévelha, se a gente sente pena só quando pensa que um e outro não pensam, pensar e sentir são diferentes assim?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O nome das coisas

Sentimento de não ser competente
Medo de não ser suficiente
Medo de ficar sozinha
Medo de tentar e dar errado
Vergonha de fracassar
Sentir a vida passar
Sentir que está parada
Sentir que é igual sempre

Como você quer ser quando o tempo tiver passado?

*Laís, dê nome as coisas que elas deixam de ser. Faça silêncio, pense, não se culpe por não estar plena em alegria nesse pequeno instante. Dê nome que deixa de ser. Amanhã tem horas suficientes pra construir o que está por vir.
Insegurança
Solidão
tem nome
Coragem
Seguir em frente.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os textos que escrevemos quando estamos tristes

A gente tem o que dizer quando a gente vive. Os dias que a gente tem pra contar, ainda que não sejam os nossos mas passam a ser nossos, só tem graça quando a gente vive. Quando a gente vive a nossa vida, quando a gente vive a vida do maluco de crachá que trabalha no hospital e sai pela rua gritando jargonofasicamente com todos os playbas de jaleco, a gente vive quando ajuda o casal de velhinhos de bengala se matando de rir um pouco de sem graça um pouco de graça de tudo por não conseguirem subir a calçada, vive quando fala com o velhinho do metrô que tá indo no mesmo sentido que você mas sente como já estivesse no sentido oposto. Na mesma estação as vidas se misturam e a gente sai com as experiências que um outro menos privilegiado acumulou. A gente vive quando dá bola pra quem não tem absolutamente nada em comum com você, a não ser a chance de fazer a vida de outro alguém um pouco menos óbvia, um pouco menos domingo de tarde. Viver de verdade é quando a gente tem a vida inteira, nem que por 5 minutos, entregues na vida que te escolher.

Tá aberta, pode entrar

Aonde se quer chegar vendo tudo com os olhos por trás dos óculos escuros?
O que é tão revelador que só pode ser visto assim? Como se encontra o verdadeiro amor usando óculos? Como se sente com perfeição aquilo que se vê sem reflexo? Deixar-se ver é também mostrar. Abrir as portas é a liberdade de sair mas é a vulnerabilidade de deixar entrar. Dividir dói, olhar pra dentro dói, ouvir o que é melhor pra você dito por outro alguém quase que insulta, mas os óculos que não deixam ver tão pouco se deixam serem vistos. E qual o preço que se paga? O quanto vale ser só você?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

You can hear but you can't say

É engraçado que essa coisa de rodar rodar e parar no mesmo lugar acontece mesmo.
Faz cinco anos, e eu lembro como se fosse hoje. Estar sozinho é igual em qualquer lugar e aparentemente em qualquer época. Eu me sentia todas as Laíses que eu podia ser, a Laís ansiosa, a Laís ilusionista, a Laís sarcástica, a auto-piedosa... E eu tinha pra onde ir, mas preferi ficar sozinha porque ir pra um outro ligar tendo em mente que a meta é simplesmente ir pra não ficar parado é certeiro. É chegar lá e lembrar que por mais que a angústia seja a mesma, no quentinho da própria cama é mais fácil de persuadir. E eu tentei, nesse dia que ficou cinco anos no passado, ir pra outro lugar. Mas em casa eu controlava o choro, fora era mais difícil. Talvez porque a Laís sarcástica e a mais baixinha, a otimista, dão uma força pra ansiosa-auto-piedosa. O fato é, que quando a gente não consegue mais dizer nada, quando dizer "eu tô bem" soa mais mofado que "eu tenho uma doença progressiva", é melhor mesmo não dizer nada. Porque no mundo alguém um dia sentiu algo parecido. Ou você simplesmente está tão aflita e ávida por um apoio que palavras certas de outro alguém suprem a anomia do seu não-conseguir-dizer. E as coisas mudam, a gente cresce, muda, e mesmo voltar a ser o que era é mudar. Eu lembro que eu ouvi e eu não precisei mais me preocupar. Doer era normal, passar seria normal. Eu coloquei bem baixinho pra ouvir e daqui a pouco eu vou dormir. Amanhã vai passar.

A palavra certa

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Everything Is Illuminated

"A vida de Brod era uma lenta percepção de que o mundo não era para ela, e de que - fosse por que razão fosse - ela jamais seria feliz e sincera ao mesmo tempo. Ela sentia-se transbordar, sempre produzindo e guardando mais amor dentro de si. Mas não havia libertação. Ela abordava o mundo com sinceridade, buscando algo merecedor do enorme amor que sabia ter dentro de si, não era o mundo que era a grande mentira salvadora, mas a vontade dela de torná-lo belo, de viver uma vida em segundo grau, num mundo aparentado em segundo grau com aquele no qual todos os outros pareciam existir."

terça-feira, 12 de julho de 2011

O que a gente escolhe O que escolhe a gente

Não existe opção para escolhas feitas com o coração.
Talvez por isso sejam as decisões mais difíceis de tomar. Talvez por isso seja a decisão que a gente demora a assumir, porque a gente até sabe, mas não sabe que sabe.
E saber não quer dizer ter absoluta certeza do caminho que se deve tomar. Saber não é fazer só o que gosta e gostar de tudo que faz.
Saber é saber. Igual quando a gente sabe que ama uma coisa ou uma pessoa, e saber é que nem amar. É pra sempre.
Não se des-sabe alguma coisa, e não se vive como se não soubesse.
Então se você sabe o que te faz mexer e você sabe o que te faz parar, porque as vezes você pára no que te pára e se mexe do que te mexe?

sábado, 2 de julho de 2011

opaco.

Fazer silêncio é a resposta mais transparente que se pode dar.
Não falar é quase gritar quando a gente não se aguenta ouvir.
Eu estou em casa? Por que não? La ainda é minha casa?
Eu continuo morando da Rod. Presidente Dutra?
Quem é responsável por mim? Não deveria ser eu mesma porque eu não sei o que me fazer. Eu não sei a hora do banho, eu não sei a hora de comer, eu não sei tomar condutas no trabalho.
Eu não aprendo muita coisa, mas sou boa em decorar. Isso é quase um insulto mas quem mais poderia fazê-lo?
Eu sou do tipo que tem cabelo médio, mas cabelo cresce.
Eu tenho coisas boas pela frente, mas eu me deixo cair as vezes. Por que eu me deixo? Por que depois dói se no fundo eu sei que eu nem sou assim de verdade?
Ser quem eu sou as vezes dói, mas dói muito mais quando saio de mim e não reconheço nada ao redor.

terça-feira, 28 de junho de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

Os dias da sua vida

Muito bem! Você chegou!!

Não sei se você sabe, mas vinte e três anos é uma idade muito, mas muito importante. Não são todas as pessoas que sabem porque essa preciosa informação só chega para pessoas de coração muito nobre e de alma leve e transparente.
Pessoa assim é difícil de achar, porque usualmente se apresenta num primeiro instante com uma expressão de pessoa séria, mas segundo o que eu sei, que é o que eu acho, essa expressão é pra mostrar humildade, pra mostrar que não está totalmente entregue e confortável na vida, mas que tá se descobrindo, e tá descobrindo as coisas... E portanto tem receio, é precavido e atento a todos os pormenores, afinal pessoa assim é sonhadora e enxerga longe, o limite é muito além do que a gente imagina e é normal que nessa ocasião haja cautela. É assim que se alcança a longevidade e a realização dos sonhos. Eu na verdade tive muita sorte e encontrei uma pessoa assim.

Mas vamos ao que interessa. O que você precisa saber é o seguinte:
23 anos é a idade de ser feliz. É a idade de fazer planos e sonhar. Coincidentemente é nessa idade em que há energia o bastante para realizar tudo que parece tão distante mesmo com algumas dificuldades, obstáculos e pessoas fazendo cara feia ou corpo mole.
Agora é a hora de se impressionar e se encantar com aquelas coisas que você tem vontade de fazer e de conhecer. Sem se preocupar, porque a hora é essa mesmo.
É hora de usar todos os tipos de roupa, todas as combinações e não combinações de cores, e use, porque agora é a hora. Isso serve para os sapatos, isso serve para as mochilas e sacolas, e serve pra tudo isso junto.
Pinte mais elefantes, eles te pintam também.
Não se preocupe em as vezes fazer as coisas que as outras pessoas fazem também, você é único, o que você faz é sempre inédito.
Seja arquiteto, mas seja biólogo também. Nas suas horas vagas pelo menos. Dedique sim seu tempo aos bichinhos e às plantas, você faz bem pra eles, dá pra ver.
Tome sucos e chás, convide alguém pra tomar com você que sua companhia é boa.
Leia livros que te façam sentir coisas novas, seja ridículo quando tiver vontade de ser, e quando for não olhe para quem tiver em volta, o que você sente só você sentirá e dificilmente conseguirá explicar.
Fale o que você pensa, não engula sapos, seja respeitoso com seus sentimentos e nunca pense que não pode ser você.
Na verdade o que é importante mesmo você saber, é que você deve ser você. Ser você faz as pessoas serem mais elas mesmas, ser você me faz ser eu mesma.
Mas ser bom e fazer o bem é uma responsabilidade grande. Só dada a pessoas de muito potencial. Você tem o poder de fazer o mundo melhor. Agora. Como eu sei disso?
Você faz meu mundo melhor.

Que todos os dias sejam seus, que sejam celebradas todas as suas conquistas sempre com o mesmo entusiasmo que você foi celebrado ao nascer e que eu possa todos os anos te dar parabéns e comemorar com você, agradecendo por você existir e por ser parte de mim.

FELIZ ANIVERSÁRIO!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Preguiça

Ela procurou um médico. Na verdade a mãe dela marcou por ela porque ela não tem muita iniciativa, ela mais reclama mesmo e espera alguém fazer por ela. No consultório o doutor deu o laudo e a receita: Auto-estima baixa, vai procurar o que fazer menina!
Ela não tinha muito orgulho mas se sentiu ofendida quando ouviu o diagnóstico. Parece que era preguiça mesmo, e ela tentava não ter preguiça, porque a preguiça justificaria muita coisa na vida dela, desde o fato de não pentear o cabelo até o andamento dela no trabalho. Ela não tinha força, tadinha! Ela se esforçava, ela suava até e a gente via que suava, mas não vingava... e coitada também não queria ser chamada. Ela foi atrás da droga que o doutor indicou. E como era cara a danada! Tinha período pra tomar e prazo pra terminar. O efeito colateral era mais no bolso mesmo, e a abstnência provocava vício. Mas tudo bem, pelo menos tinha sentido. Pelo menos ela acordava cedo, pelo menos não ficava no sofá comendo biscoito vendo o Video Show. Pelo menos no fim do dia ela podia jogar a bolsa no sofá e dizer "Puxa, estou cansada!" e de alguma forma isso valia, por alguns instantes isso preenchia. Era só ter o que fazer e o piloto automático da bichinha dava conta do resto. Não tendo tempo não havia mais vazio, não pensando ela quase não doia. Só podia ser preguiça, mas não era preguiça de agir, era preguiça do tipo preguiça de pensar.
Era preguiça de existir por si só. De respirar o ar por respirar mesmo, era a preguiça de aceitar o doído que era não ser a ninguém que ela esperava ser, o vácuo de não ser bom nem em fazer bem pra si nem pra ninguém. Era preguiça de aceitar a certeza de ser gente normal mesmo. Bobo esse doutor que não soube examinar...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um conto, três pontos

É claro que eu acho que vale a pena.
Eu tenho chance, eu quero mais, eu posso ir longe.
Eu não sei muita coisa, mas sou muito boa em aprender
Eu não tenho tudo, mas eu me empenho em conseguir
Eu quero saber mais, eu quero viajar, eu quero aprender, eu quero ensinar e eu posso mudar o mundo, mesmo que o mundo por algum tempo seja uma sala de 3x2.
Força eu tenho, sonho eu tenho, coragem eu tenho, amor eu tenho.
Eu existo pra usar isso tudo, eu existo pra fazer mais e eu tenho certeza de que o mundo precisa disso e tudo que o mundo precisa pode não caber em mim mas eu caibo nisso tudo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A gente não pede perdão quando existe o amanhã

Um dia ele esqueceu de te ligar no horário que costuma ligar. Também ele tinha muita coisa pra ser feita, entre os trabalhos, os projetos e a arrumação da casa. Tudo aquilo que você adia não porque você é desleixada, que no fundo é um sacrifício enorme pra você passar por cima disso tudo e ignorar a desordem da sua vida mas que você faz feliz para poder ligar pra ele e estar pronta pra receber o telefonema dele porque vale a pena. De alguma forma você acha bem feito pra si mesma, afinal quem mandou ter sido tão imprudente? Quem mandou ser bacana e doce e prestativa e pró-ativa? E quem mandou você não saber que as pessoas são assim? A culpa é sua, claro que é. No fundo muito da sua vontade de ser meiga o tempo todo, e simpática com todo mundo, e cordial com os injustos, é um jeito que você descobriu pra amenizar a sua culpa. Agora você não pode mais atrapalhar nem causar transtorno a ninguém e inclusive você deve tomar pra si os problemas dos outros, ainda que sejam desconhecidos e dar um jeito de resolve-los. Também... Quem mandou? Esse seu corpinho que de três meses pra cá borbulhou de celulite, essa dobrinha nas costas e a barriga que não merece descrição? você sabe porque foram até onde foram, e acordar de madrugada pra malhar por mais que você deteste academia e qualquer coisa sem função imediata, é pouco. Você precisa fazer mais, você precisa sofrer um pouco mais, e talvez não seja o suficiente. Ecoa na lembrança que você merece, e não se deixe emagrecer, não se deixe melhorar, não se deixe ir tão longe. Daí vem sua vontade de querer recomeçar, daí sua vontade de viver de um jeito mais simples, de andar com roupas feitas em casa e cultivar a própria comida. A tentativa de se refazer, de se perdoar e seguir em frente parece mais fácil que olhar para dentro de si e aceitar a perda que provocou. A culpa é sua, e decepcionar dói. Não queira fugir de si, não queira simplesmente esquecer, não queira morrer por isso. Respire fundo, durma tecnicamente bem e bola pra frente. Voce pode não se perdoar tão breve, mas amanhã a vida dá mais um dia pra você botar em prática aquilo que realmente gostaria de ser e o bem que gostaria de fazer.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Do not forget

- Desenho de pessoinhas
- Molduras
- Irmãs gêmeas
- Mini comidinhas
- Scarf
- Meias
- Flor
- Sementinha
- Novos sabores
- Antigos sabores
- Spark
- Óculos
- Manhã
- Sol no frio
- Textura de corpo
- Cumbuca

quarta-feira, 16 de março de 2011

Crer-Ser

Assim que ela decidiu ser feliz, foi logo até a gaveta da estante com espelho grande, oval e um pouco torto, cortou os cabelos de um jeito que sempre teve vontade e nunca havia tido coragem. Passou batom, vestiu um casaco longo de couro que deveria dar cnta do frio e antes de sair pela porta desajeitou o cabelo, para que então o corte tivesse sentido e sua vida se refizesse. Ela era nova. Ela saiu e fez o caminho contrário ao habitual, e de alguma forma foi a primeira vez que sentia ir para o lado certo. Em sua mochila não havia muita coisa, mas não era só isso que fazia com que ela parecesse mais leve que sua bolsa de mão de todos os outros dias que passaram. Com ela, alguns pares de meia, um pouco de dinheiro e o amor. Umas linhas de costura e botões coloridos. Um guia prático de como fazer, mas que ainda mal tinha sinais de uso. Não importava muito que não houvesse um plano. Tempo para plano ela sempre teria. Não importava que estava sem guarda-chuva.
Mas não foi muito longe, na verdade. Alguns quarteirões a frente e se via ligada ao presente.Tão presente, que nem mesmo determinada a deixá-lo para trás, foi capaz de vê-lo no passado. Não pelos procedimentos, não pela roupa branca, não também pelas pessoas. Definitivamente não por qualquer outra razão que não ela mesma. Havia um sonho prévio, e era o sonho de descobrir a razão de tudo aquilo até agora. Não era lá que ela deveria permanecer, mas era lá que ela deveria descobrir, e portanto é nisso que seria preciso persistir. Por sorte ainda estava em tempo de entrar para o próximo período. E então correu para a sala, sentou-se ao fundo para não atrapalhar aos demais e a si própria, e pôs-se a planejar a próxima saga, mas dessa vez, não seria a fuga de si mesma, seria a busca do mundinho que criou um dia e guardou no caderninho.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O que eu espero

Eu me assusto quando me confundo com o que eu faço. Ser uma profissão não me parece grande coisa dentro do que eu faço, embora ser alguém, uma pessoa responsável, um humano coerente e sentimental dentro de uma profissão pareça bonito e muito profundo. Ser pintor é inanimado, as vezes é só um bom pincel, ter um coração pintor que cria e renova é que deve ser legal. Ser médico é ter um guarda pó e um estetoscópio, ter um coração médico é amar alguém e dar todo o seu esforço por esse alguém, e alguém que é conhecido, porque se o médico não conhece o paciente dele, ele é só o guarda pó e o estetoscópio.
Eu tento ouvir o que meu coração quer que eu seja, mas tento botar meu cérebro de frente pra ele, pra que eles descubram juntos pra onde eu devo canalizar meu amor e como fazer dinheiro com isso, embora cada vez menos eu pense no dinheiro.
O que sei é que eu não deito cedo a toa, eu não me afasto ou me isolo a toa. Minha profissão faz um pouco disso por mim nesse momento, meu corpo pede um pouco disso agora, mas mais que isso, meu coração fica tímido onde muita gente fala, e fica muito difícil escutar o que ele diz, ainda mais na língua que ele fala, para a qual eu ainda sou iniciante com pé no básico I.
Eu espero, e eu não espero parada. Meu coração está se empenhando muito e dando o máximo de si pelas pessoas que se colocam diante dele, tem batido mais forte pra dar conta de bombear diagnósticos, orientações e estratégias facilitadoras, mas a noite ele volta a bater de acordo com o que meu peito aguenta, e o que meu peito aguenta agora é a espera ansiosa, é o silêncio e a busca pela roupa e o instrumento certo que ele deve usar pra se refugiar e seguir em frente.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

lar

Tem coisas que eu precisaria fazer mas não faço.
Eu me testo demais, em todos os meus limites da tolerância. Eu não quero mais me irritar com coisas fora do lugar, mas eu continuarei me irritando com desperdicio, do tempo e da vida, principalmente do meu tempo e da minha vida.
Acho que por isso eu acabo precisando um pouco estar sozinha. Eu tenho o meu jeito, minha hora e minha escolha e eu gosto de dividir isso com quem tem o mesmo jeito, ou entende e lida com isso de um jeito natural.
Eu já mudei por dentro, mas de alguma forma preciso mudar isso aqui fora.
Minha casa deve ser como é meu coração, e do meu coração eu eu filtro o que for ruim. Eu sou mesmo cheia de manias, e cada vez mais. Não vejo motivo pra contrariar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Começo

Seria prudente começar todos os dias. O começo é o que dá sentido a todos os planos que ainda não foram executados.
Começar nos permite manter a consciência plena, ainda que não sempre o bastante, para agir cautelosamente, acertar na maior parte das vezes e aprender alguma coisa com os inevitáveis erros.
Eu gosto de começar. Eu gosto quando depois de um tempo, é possível olhar para trás e caçoar do que antes era tão temível, e agora é rotina. E penso como isso acontecerá com o que vem pela frente.
Eu não deixo muito acontecer, mas gosto de ser surpreendida. Gosto de filmes que parecem não ter fim, de lembranças trazidas de viagem e de desconhecidos simpáticos. Principalmente das velhinhas. E me monitoro na tentativa de sempre ser afável e serena diante dos acontecimentos inesperados. Eu tento achar tudo normal, porque é o normal que eu queria que fosse verdade.
Poder levar lições de outras circunstâncias já vividas para cada novo começo, é um privilégio e uma dádiva. Sim, eu quero começar.
Eu estou apavorada, pirando e me contorcendo de medo.

Eu estou ansiosa e gelada e assustada, e tenho medo porque sempre haverá, em qualquer lugar, alguém que espera algo de mim. Mas do mesmo jeito que eu espero sempre reações rotineiras e inevitávelmente em situações excepcionais sou surpreendida por gestos e palavras desprovidas de interesse e carregadas de simplicidade e com isso ganho não só o dia, mas as vezes a vida inteira, é possível que eu também surpreenda alguém, e dê de presente um minuto de satisfação, para que mais gente no mundo sinta que não está só, e no fim das contas todo mundo só quer ser livre para achar normal, as velhinhas simpáticas e os filmes que terminam de repente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Do jeito que você é

Suas unhas das mãos estão sempre limpas. Na verdade, suas mãos estão sempre limpas, e as vezes eu fico com vergonha porque suas mãos são mais macias que as minhas, e os meus dedos das mãos são um pouco tortos por causa do jeito que eu seguro o lápis para escrever. Eu não sei se você já percebeu isso, mas você nunca diz, e eu até imagino que você goste das minhas mãos mesmo assim.
Eu nunca disse, mas eu gosto das suas mãos, e sempre gostei.

Seus cílios são compridos, pretos e alinhados. Quando você fecha os olhos fica muito evidente o contraste entre a cor da sua pele e os seus cílios e isso me faz pensar que você é delicado e sensível. Ao mesmo tempo, a curvinha da sua fronte e as suas sobrancelhas espessas parecem indicar que você tem uma proteção muito sólida, um escudo que te faz manter a postura. Sempre. Quando você fecha os olhos, para mim é quase inevitável beijar o espaço entre as suas sobrancelhas e os seus cilios. Beijar a sua pálpebra me recorda que te conheço intimamente. Me faz sentir a linnha tênue entre a sua concha como um escudo quando você se dispõe a enfrentar o que é desconhecido e um abrigo para se esconder do perigo.
Eu realmente amo a sua pálpebra, e quando depois que a beijo, seu pescoço cai para o lado e sua cabeça encaixa sobre o meu ombro, eu sinto um frio na barriga, meu corpo treme de levinho, porque ai eu sei que você é mais meu que nunca, e eu sou mais sua que nunca, e ninguém se atreve a interromper.

Quando eramos menores, as nossas mãos se encontravam casualmente, os beijos eram casuais,os abraços eram quase premeditados, mas nossos olhares já estavam apaixonados antes das casualidades. Eles esperaram pacientemente, e aos poucos tudo se tornou espontâneo, cheio e maciço. Hoje as coisas acontecem e as vezes eu nem percebo. Sei que as vezes você não percebe também. Porque sentir o corpo de um no outro é muito tranquilo e confiável, é como as vezes sentir o próprio corpo. É muito natural. Difícil acreditar que foi a gente que criou. E pra onde vamos agora? A gente vai crescer mais, não é? A gente vai descobrir mais coisas um sobre o outro? A gente vai inovar coisas em nós mesmos e o outro vai descobrir? Eu te pergunto, mas sei que sabe tanto quanto eu, e se é mesmo tanto quanto eu, vale a pena não ler a última página do livro, vale a pena descobrir e se surpreender sempre. Porque sempre tem uma parte do corpo para ser redescoberta.
Mas é como se o olhar já soubesse, e estivesse sempre apaixonado, espereando pacientemente o corpo todo se dar conta disso.