quarta-feira, 15 de junho de 2011

Preguiça

Ela procurou um médico. Na verdade a mãe dela marcou por ela porque ela não tem muita iniciativa, ela mais reclama mesmo e espera alguém fazer por ela. No consultório o doutor deu o laudo e a receita: Auto-estima baixa, vai procurar o que fazer menina!
Ela não tinha muito orgulho mas se sentiu ofendida quando ouviu o diagnóstico. Parece que era preguiça mesmo, e ela tentava não ter preguiça, porque a preguiça justificaria muita coisa na vida dela, desde o fato de não pentear o cabelo até o andamento dela no trabalho. Ela não tinha força, tadinha! Ela se esforçava, ela suava até e a gente via que suava, mas não vingava... e coitada também não queria ser chamada. Ela foi atrás da droga que o doutor indicou. E como era cara a danada! Tinha período pra tomar e prazo pra terminar. O efeito colateral era mais no bolso mesmo, e a abstnência provocava vício. Mas tudo bem, pelo menos tinha sentido. Pelo menos ela acordava cedo, pelo menos não ficava no sofá comendo biscoito vendo o Video Show. Pelo menos no fim do dia ela podia jogar a bolsa no sofá e dizer "Puxa, estou cansada!" e de alguma forma isso valia, por alguns instantes isso preenchia. Era só ter o que fazer e o piloto automático da bichinha dava conta do resto. Não tendo tempo não havia mais vazio, não pensando ela quase não doia. Só podia ser preguiça, mas não era preguiça de agir, era preguiça do tipo preguiça de pensar.
Era preguiça de existir por si só. De respirar o ar por respirar mesmo, era a preguiça de aceitar o doído que era não ser a ninguém que ela esperava ser, o vácuo de não ser bom nem em fazer bem pra si nem pra ninguém. Era preguiça de aceitar a certeza de ser gente normal mesmo. Bobo esse doutor que não soube examinar...

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