quarta-feira, 16 de março de 2011

Crer-Ser

Assim que ela decidiu ser feliz, foi logo até a gaveta da estante com espelho grande, oval e um pouco torto, cortou os cabelos de um jeito que sempre teve vontade e nunca havia tido coragem. Passou batom, vestiu um casaco longo de couro que deveria dar cnta do frio e antes de sair pela porta desajeitou o cabelo, para que então o corte tivesse sentido e sua vida se refizesse. Ela era nova. Ela saiu e fez o caminho contrário ao habitual, e de alguma forma foi a primeira vez que sentia ir para o lado certo. Em sua mochila não havia muita coisa, mas não era só isso que fazia com que ela parecesse mais leve que sua bolsa de mão de todos os outros dias que passaram. Com ela, alguns pares de meia, um pouco de dinheiro e o amor. Umas linhas de costura e botões coloridos. Um guia prático de como fazer, mas que ainda mal tinha sinais de uso. Não importava muito que não houvesse um plano. Tempo para plano ela sempre teria. Não importava que estava sem guarda-chuva.
Mas não foi muito longe, na verdade. Alguns quarteirões a frente e se via ligada ao presente.Tão presente, que nem mesmo determinada a deixá-lo para trás, foi capaz de vê-lo no passado. Não pelos procedimentos, não pela roupa branca, não também pelas pessoas. Definitivamente não por qualquer outra razão que não ela mesma. Havia um sonho prévio, e era o sonho de descobrir a razão de tudo aquilo até agora. Não era lá que ela deveria permanecer, mas era lá que ela deveria descobrir, e portanto é nisso que seria preciso persistir. Por sorte ainda estava em tempo de entrar para o próximo período. E então correu para a sala, sentou-se ao fundo para não atrapalhar aos demais e a si própria, e pôs-se a planejar a próxima saga, mas dessa vez, não seria a fuga de si mesma, seria a busca do mundinho que criou um dia e guardou no caderninho.

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