quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os textos que escrevemos quando estamos tristes

A gente tem o que dizer quando a gente vive. Os dias que a gente tem pra contar, ainda que não sejam os nossos mas passam a ser nossos, só tem graça quando a gente vive. Quando a gente vive a nossa vida, quando a gente vive a vida do maluco de crachá que trabalha no hospital e sai pela rua gritando jargonofasicamente com todos os playbas de jaleco, a gente vive quando ajuda o casal de velhinhos de bengala se matando de rir um pouco de sem graça um pouco de graça de tudo por não conseguirem subir a calçada, vive quando fala com o velhinho do metrô que tá indo no mesmo sentido que você mas sente como já estivesse no sentido oposto. Na mesma estação as vidas se misturam e a gente sai com as experiências que um outro menos privilegiado acumulou. A gente vive quando dá bola pra quem não tem absolutamente nada em comum com você, a não ser a chance de fazer a vida de outro alguém um pouco menos óbvia, um pouco menos domingo de tarde. Viver de verdade é quando a gente tem a vida inteira, nem que por 5 minutos, entregues na vida que te escolher.

Tá aberta, pode entrar

Aonde se quer chegar vendo tudo com os olhos por trás dos óculos escuros?
O que é tão revelador que só pode ser visto assim? Como se encontra o verdadeiro amor usando óculos? Como se sente com perfeição aquilo que se vê sem reflexo? Deixar-se ver é também mostrar. Abrir as portas é a liberdade de sair mas é a vulnerabilidade de deixar entrar. Dividir dói, olhar pra dentro dói, ouvir o que é melhor pra você dito por outro alguém quase que insulta, mas os óculos que não deixam ver tão pouco se deixam serem vistos. E qual o preço que se paga? O quanto vale ser só você?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

You can hear but you can't say

É engraçado que essa coisa de rodar rodar e parar no mesmo lugar acontece mesmo.
Faz cinco anos, e eu lembro como se fosse hoje. Estar sozinho é igual em qualquer lugar e aparentemente em qualquer época. Eu me sentia todas as Laíses que eu podia ser, a Laís ansiosa, a Laís ilusionista, a Laís sarcástica, a auto-piedosa... E eu tinha pra onde ir, mas preferi ficar sozinha porque ir pra um outro ligar tendo em mente que a meta é simplesmente ir pra não ficar parado é certeiro. É chegar lá e lembrar que por mais que a angústia seja a mesma, no quentinho da própria cama é mais fácil de persuadir. E eu tentei, nesse dia que ficou cinco anos no passado, ir pra outro lugar. Mas em casa eu controlava o choro, fora era mais difícil. Talvez porque a Laís sarcástica e a mais baixinha, a otimista, dão uma força pra ansiosa-auto-piedosa. O fato é, que quando a gente não consegue mais dizer nada, quando dizer "eu tô bem" soa mais mofado que "eu tenho uma doença progressiva", é melhor mesmo não dizer nada. Porque no mundo alguém um dia sentiu algo parecido. Ou você simplesmente está tão aflita e ávida por um apoio que palavras certas de outro alguém suprem a anomia do seu não-conseguir-dizer. E as coisas mudam, a gente cresce, muda, e mesmo voltar a ser o que era é mudar. Eu lembro que eu ouvi e eu não precisei mais me preocupar. Doer era normal, passar seria normal. Eu coloquei bem baixinho pra ouvir e daqui a pouco eu vou dormir. Amanhã vai passar.

A palavra certa

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Everything Is Illuminated

"A vida de Brod era uma lenta percepção de que o mundo não era para ela, e de que - fosse por que razão fosse - ela jamais seria feliz e sincera ao mesmo tempo. Ela sentia-se transbordar, sempre produzindo e guardando mais amor dentro de si. Mas não havia libertação. Ela abordava o mundo com sinceridade, buscando algo merecedor do enorme amor que sabia ter dentro de si, não era o mundo que era a grande mentira salvadora, mas a vontade dela de torná-lo belo, de viver uma vida em segundo grau, num mundo aparentado em segundo grau com aquele no qual todos os outros pareciam existir."