quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Do jeito que você é

Suas unhas das mãos estão sempre limpas. Na verdade, suas mãos estão sempre limpas, e as vezes eu fico com vergonha porque suas mãos são mais macias que as minhas, e os meus dedos das mãos são um pouco tortos por causa do jeito que eu seguro o lápis para escrever. Eu não sei se você já percebeu isso, mas você nunca diz, e eu até imagino que você goste das minhas mãos mesmo assim.
Eu nunca disse, mas eu gosto das suas mãos, e sempre gostei.

Seus cílios são compridos, pretos e alinhados. Quando você fecha os olhos fica muito evidente o contraste entre a cor da sua pele e os seus cílios e isso me faz pensar que você é delicado e sensível. Ao mesmo tempo, a curvinha da sua fronte e as suas sobrancelhas espessas parecem indicar que você tem uma proteção muito sólida, um escudo que te faz manter a postura. Sempre. Quando você fecha os olhos, para mim é quase inevitável beijar o espaço entre as suas sobrancelhas e os seus cilios. Beijar a sua pálpebra me recorda que te conheço intimamente. Me faz sentir a linnha tênue entre a sua concha como um escudo quando você se dispõe a enfrentar o que é desconhecido e um abrigo para se esconder do perigo.
Eu realmente amo a sua pálpebra, e quando depois que a beijo, seu pescoço cai para o lado e sua cabeça encaixa sobre o meu ombro, eu sinto um frio na barriga, meu corpo treme de levinho, porque ai eu sei que você é mais meu que nunca, e eu sou mais sua que nunca, e ninguém se atreve a interromper.

Quando eramos menores, as nossas mãos se encontravam casualmente, os beijos eram casuais,os abraços eram quase premeditados, mas nossos olhares já estavam apaixonados antes das casualidades. Eles esperaram pacientemente, e aos poucos tudo se tornou espontâneo, cheio e maciço. Hoje as coisas acontecem e as vezes eu nem percebo. Sei que as vezes você não percebe também. Porque sentir o corpo de um no outro é muito tranquilo e confiável, é como as vezes sentir o próprio corpo. É muito natural. Difícil acreditar que foi a gente que criou. E pra onde vamos agora? A gente vai crescer mais, não é? A gente vai descobrir mais coisas um sobre o outro? A gente vai inovar coisas em nós mesmos e o outro vai descobrir? Eu te pergunto, mas sei que sabe tanto quanto eu, e se é mesmo tanto quanto eu, vale a pena não ler a última página do livro, vale a pena descobrir e se surpreender sempre. Porque sempre tem uma parte do corpo para ser redescoberta.
Mas é como se o olhar já soubesse, e estivesse sempre apaixonado, espereando pacientemente o corpo todo se dar conta disso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário