segunda-feira, 27 de julho de 2009

Construir

Mudar assusta, mas tem sido cada vez melhor. Só acho uma pena que a gente esqueça tanta coisa que acontece na vida, e que algumas memórias sejam infinitamente irreversíveis. Penso nos lugares que já estive e nos lugares onde morei e nas lembranças que ficaram lá. Nada que eu queira reviver, mas coisas que eu gostaria de poder arquivar de forma mais nítida.
As coisas envelhecem, são demolidas, são reformadas, são recriadas, e tudo devia ficar gravado pra gente ver no futuro o quanto cresceu, o quanto enriqueceu e mudou.

Na frente de casa tinha um jardim e um pinheiro. Eu subia o portão, sentava na caixa de luz e de la via os coelhos da vizinha, o papagaio do vizinho da frente e o seu Zé que vendia mandioca e carregava um macaquinho no ombro.
A gente devia ser convidado a se despedir do que iria mudar, tomar um vinho de frente para o passado e sentir de novo pela última vez o que dali pra frente seria o começo da lembrança de outro alguém. Acontece é que nada muda de uma vez. O ensaio é de longa data e as mudanças são constantes. É que é difícil perceber.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Dos ideais

Sou bastante persistente com o que me interessa de verdade, e não adianta tentar fazer com que eu desista, pois se realmente achar que posso atravessar para o outro lado do espelho ou aprender balé com 20 anos, eu continuarei tentando. Talvez não tão exposta, e não porque pode parecer sem sentido a quem vê, mas porque a presença de alguém pode inibir a penetrabilidade do espelho e minha performance de rotação.
Eu busco coisas que talvez não existam, ou talvez não existam onde todo mundo já cansou de procurar. Eu acredito em noites perfeitas, em trabalho honesto e em milagres da Natal.
Eu sigo uma intuição que me faz pensar que não é em vão e que coisas inesperadas, cores novas, e diferentes tipos de chuva podem surgir e podem me desviar por alguns segundos ou indefinidamente.
O risco que se corre é o desapontamento, e se assim for, tenho certeza de que já existem no mundo coisas suficientemente novas e concretas para que eu experimente.


Eu tenho medo, as vezes me desespero, as vezes desisto e me encaixo, mas também sinto arrepio e sinto minha barriga formigar, e nas borboletas que todos vemos, eu enxergo uma pequena
seta.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"...And i'm nothing on my own"

Eu não faço mais as coisas que eu não gosto, e dei a mim esse direito. Não faço coisas que não gosto com pessoas que eu gosto, não faço coisas que não gosto quando não fazem sentido pra mim, e já faz algum tempo.
Mas quando quem eu gosto opta por algo que eu não gosto, eu decido ficar la? Eu me obrigo a ficar la? A minha liberdade não é tão livre assim de mim.

Sou brávia e segura porque inventei que sou, e porque por mais baixo e humilhante que possa as vezes parecer, eu não cresci sozinha. Eu me apoiei, eu me envolvi e optei por depender. Mas por apenas um segundo, e é esse segundo que vem se fragmentando ao longo das minhas conclusões, a minha resposta não foi a mesma para uma pergunta. Nós não tivemos o mesmo roteiro de pensamento, nós não fizemos o mesmo gesto como sempre fazemos, nem tivemos a mesma expressão como sempre temos, e todos sabem que temos. E ai me lembrei que eu sou uma só e que a minha vida e o que eu sinto pode as vezes existir só dentro de mim. Foi só por um segundo, mas eu devia ser mais minha nos outros quase 21 anos.

*Nunca abrir mão de si

sábado, 4 de julho de 2009

Seguindo a seta

Muitas vezes as coisas parecem ter mais sentido quando tudo está difuso. É tudo mais prático quanto menos você sabe, é tudo mais concreto quando você está bêbado, e é também mais fácil aceitar. Porque há uma segurança, uma certeza de que é possível ter razão, e as vezes por saber demais somos induzidos ao erro.
Eu gosto de estar certa, mas só pela intuição e tudo que diz respeito ao futuro, e não tenho medo de errar, porque isso não me passa pela cabeça. O que acontece então se for realmente possível estar errada? A minha segurança desfaz essa possibilidade? Seria eu tão forte assim?