quinta-feira, 20 de maio de 2010

Control

Era uma vez uma menina que levou um choque quando criança, levou um choque na pré-adolescência e outro pouco tempo depois. Uns meses atrás levou mais um, e agora ela é um pouco mais cautelosa, embora chegue perto das tomadas e encoste nos interruptores. Embora ela abra a geladeira puxando pelo cantinho desencapado da geladeira, e sem chinelos. Embora ela ligue o chuveiro forçando o dedo cortado contra a torneira. Ela costumava brincar com o cachorro o tempo todo, e coçava a barriga dele porque isso parecia deixá-lo feliz, aliás como é feliz deixar alguém feliz sem precisar dizer nem ouvir nada! Mas um dia o cachorro num lapso de transtorno da mente canina virou num movimento rápido e brusco e a mão que coçava a barriga em poucos milésimos tornou-se petisco pro animal! Mas foi só um petisco, coisa que manicure desatenta faz no nosso dedo. A Denise (é esse o nome dela) ainda gosta do cachorro e joga o brinquedinho lá longe pra ele buscar e trazer de volta. Na hora de afagar a barriguinha, ela afaga, mas bem pouco e bem rápido para evitar quaisquer pormenores. Tudo isso pra dizer que a Denise ama o cachorro, ama a eletricidade e agradece todo dia por ela, mas tem medo das duas coisas. Tudo isso pra dizer que se um dia o cachorro morder ou ela levar outro choque, não a façam sentir burrinha. Não a façam se arrepender e por favor não digam "eu te avisei". Porque a Denise pergunta muito e pede opinião, mas é só porque vocês são importantes na vida dela. Ela pergunta as vezes pra se organizar, mas ela sabe o que faz. Ela não é burrinha e é dona de si própria.
Pensar em ser dona de si própria dá medo na Denise do mesmo jeito que o cachoror que ela ama, do mesmo jeito que a eletricidade indispensável, e vale a pena uma mordidinha, vale a pena um "brrrrrrr" na ponta dos dedos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário