quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Dos ciclos e dos espirais

Ela se olhava no espelho todo dia de manhã e era como se todo dia fosse a manhã anterior. Não sabia porquê, mas era sempre igual a manhã anterior. Nunca como a manhã seguinte.
E planejava todo dia antes de dormir, que na manhã seguinte seria diferente. Seria o depois de amanhã refletindo no presente. Seria como fazer algo com um objetivo à frente. E seria como sempre deveria ter sido, e ela se encontraria e viveria numa bola de neve gigante que cresceria a cada dia. Ela sentiria muito muito calor porque tinha (e de fato tinha mesmo) o coração e as palmas das mãos e as solas dos pés quentes, mas contra toda a física e o desfiladeiro, a bola de neve cresceria, e a seu lado todos os galhos de árvore e as pedras e as lombadas não fariam diferença, porque a bola dela seria tão grande tão grande, que absorveria todo e qualquer impacto. E ela ficaria com dor na barriga de tanto rir, porque se tem algo que ela gosta e sempre gostou, é girar sem parar mas mudando de lugar, por isso preferia os cadernos em espiral, mas gostava de cadernos em geral. Todos os dias ela planejava acordar nova, e isso era suficiente pra dormir respirando fundo e sem se mexer muito na cama, e embora ainda não tenha conseguido acordar e já de manhã se enxergar no amanhã do espelho, seu coração já é quente, suas mãos e pés tambem, ela já tem o caderno em espiral e sorri mais quando gira, mesmo que no chuveiro. Afinal ela já vai dormir, e amanhã pode ser que ela se enxergue na quinta-feira, assim simples pra começar, até a bola ficar maior.

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